“Foi Deus(?) “

“ Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1:26).
A ciência sem religião é aleijada, a religião sem ciência é cega. Albert Einstein”

efeitoborbUm dia uma pessoa próxima contou-me que conversando com sua mãe, mulher muito religiosa, precisou calar-se diante da falta de argumentos. A conversa que aparentemente pretendia ser de religião, beirava a infantilidade. Algo mais ou menos assim:
- Mas mãe de onde a senhora tirou essa certeza de que Deus existe?
– Ora, é só olhar em volta, a natureza, o mar, as estrelas, quem você acha que fez?
– Não sei.
- Pois então filho, foi Deus.

Agora ali estava o filho querendo fazer o mesmo joguinho comigo. A cena me reportou a algo similar a um déjá vu, a lembrança de um livro infantil onde mãe e filho, no caso uma criança, ensaiam um pingue-pongue cansativo em torno das mesmas questões, e a resposta monocórdica repete-se até o final: “Foi Deus, meu filho”.

Só consigo hoje pensar que alguém ganhou um dinheirinho bom escrevendo tal obra prima da literatura infantil. A sugestiva ilustração que deveria sensibilizar os pequenos leitores tinha, no entanto, efeito contrário. Um garotinho loiro de expressão angelical, com pele quase transparente, como manda o figurino, apontando as estrelas e um clone da virgem Maria com aquele ar de oh meu deus me dai paciência para agüentar o pentelho, era fonte de piadas espirituosas para crianças submetidas à tortura de escutar, ler e interpretar (?) o malfadado texto em sala de aula.

Naquele dia fiquei de novo com a amarga sensação de que estamos condenados a viver numa curiosa e degradante simbiose de conhecimento científico e dogmas religiosos fantasistas. Por mais que nossos horizontes se estendam diante de tanta informação, a religião continua sendo um poderoso narcótico mental.
Afinal que mal há em dizer e assumir que não se sabe? Quem foi que fez as estrelas? Não sei! Ponto. Melhor ainda “Ninguém sabe!”.

Não quero provocar nenhuma anarquia mental, nem ofender a religiosidade de ninguém. É inquestionável que certa dose de espiritualidade é saudável, acredito ser este o maior bem de qualquer religião coerente, infelizmente nem todos os líderes são movidos pela fé. Existe um certo tipo de oportunista que doutrina para alienar e embrutecer multidões e tirar proveito material de um subproduto: a ignorância.

Já é tempo de abandonar ideais de santidade inalcançáveis e aprender a separar o joio do trigo, acordar para o fato de que certos dogmas são um equívoco espiritual, pior uma verborragia engenhosa, a obra prima da malandragem. Em nome de Deus praticam-se mil e uma baixezas: mata-se, apedreja-se, rouba-se e prolifera-se o preconceito. É preciso assumir-se como o ser humano que é, imperfeito, mas ainda assim genial, uma obra prima da evolução, criador e criatura reunidos num só corpo que segue ainda patinando para desvendar-se a si mesmo porque evolução pode ser uma dinâmica infinita, um caminhar para a perfeição.

Aplicando a interpretação alegórica da teoria do caos, segundo a qual o simples bater de asas de uma borboleta pode provocar um tufão no extremo do planeta, ou mais expressivamente cada ação individual repercute na própria vida e na dos outros, parece inconcebível e ao mesmo tempo bastante significativo imaginar que por esse mundo afora, pessoas que se acreditam a semelhança de Deus, permaneçam impassíveis e confortáveis em seus sofás saboreando deliciosos quitutes diante de suas TVs, olhando imagens de crianças morrendo de fome.

O efeito borboleta faz parte da teoria do caos, a qual encontra aplicações em qualquer área das ciências: exatas (engenharia, física, etc), médicas (medicina, veterinária, etc), biológicas (biologia, zoologia, botânica, etc) ou humanas (psicologia, sociologia, etc), na arte ou religião, entre outras aplicações.

Comentários

  1. Peço que visite meu blog. sou ateu, acredito que poderiamos tirar duvidas se dialogassemos de forma educada e racional!
    lucabi brasil

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