Autoajuda em xeque


"O Céu ajuda aqueles que ajudam a si mesmos." (Do livro 'Autoajuda' de Samuel Smiles, publicado em 1859, considerado o primeiro livro de autoajuda) 


Uma amiga comentou que está de saco cheio da enxurrada de fórmulas da felicidade que se vê nas redes sociais. Para ela parece que uma pancada de gente na internet tem a fórmula pra ser feliz. E estendeu seu enfado aos livros de autoajuda. 

Não é só ela. Tem muita gente se queixando do mesmo. Me detive a refletir nisso, até porque  eventualmente acabo lendo algum título que me atrai a atenção.

Antes de mais nada acredito que a ajuda oportuna, vinda de onde vier, se do livro ou da mensagem no facebook, é sempre muito bem-vinda, uma benção como diria certa pessoa. Palavras escutadas no momento certo, tanto podem significar a indignação de alguém, como a salvação. E qual o momento certo? O fator tempo é de importância vital. Para tal há que ter certas condições alinhadas. 

Primeiro vamos desmistificar a ideia de que livro de autoajuda é pra curar fossa. Em princípio este tipo de leitura é destinada a indivíduos que desejam aprimorar um conhecimento, ou uma experiência. Ou seja, é uma leitura de apoio. Na maioria das vezes, está relacionada a vivências de resiliência dos autores ou de alguém muito próximo. Uma experiência que lhe trouxe algum tipo de benefício, que o fez crescer como profissional ou ser humano, enfim uma experiência tão profunda em sua vida que anseia dividir com o mundo. 

Mas a quem realmente pode beneficiar? Iniciando com a queixa da minha amiga que inspirou este post, minha reflexão me levou a concluir que se uma pessoa está passando por alguma dificuldade e busca auxílio, ela certamente irá encontrar. Mas ate chegar a isto há que haver um alinhamento de eventos. Ou seja, não adianta eu simplesmente entregar um livro sugestivo, ou qualquer tipo de auxílio, a um amigo que está passando por alguma dificuldade se ele não estiver aberto a ajuda. Toda a crise passa por diversos processos, assim o livro pode ser jogado no canto, ou devorado como uma tábua de salvação. Tudo vai depender do estágio em que o indivíduo estiver. 

É importante destacar que quando a pessoa busca auxílio para resolver seu dilema, a ajuda pode vir de qualquer fonte, desde uma conversa na mesa ao lado, passando pelo programa de rádio escutado na corrida de táxi, até o slogan de um outdoor na rodovia. Uma palavra lida ou escutada no momento certo pode significar a motivação que faltava para seguir com uma ideia, ou a luz no fim do túnel. Assim o timing é componente fundamental na magia. Já a fórmula certa está ligada à individualidade, à empatia. O que funcionou para João e Maria pode  não ter qualquer respaldo na vida de Filipe.  Há assim uma série de atenuantes envolvidas. É como o tratamento que cura uns, mas provoca efeitos negativos em outros.

O importante, à priori, é o momento. Uma simples citação compartilhada no facebook pode significar tanto a luz, a palavra certa para alguém em algum canto do planeta, como o tédio e indiferença para um mar de gente. De nada adianta ganhar uma porção de livros de autoajuda,  receber mil mensagens motivacionais se não chegou ao estágio de buscar a salvação. O mesmo princípio vale para o vício, se a pessoa não busca ajuda, se sequer tomou consciência de sua condição, não tem santo que faça milagres. Assim se o timing é o santo protetor, é a abertura que faz o milagre acontecer, e neste exato momento, a autoajuda pode tanto vir de  um poema de Caio Fernando Abreu como... do boteco da esquina.

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